Histórias de todos os dias.
Paula Rego, anos 70
Histórias de todos os dias. Paula Rego,
anos 70
5 de novembro de 2022 a 21 de maio de
2023
Durante os anos 1969 e 1970, Paula Rego inicia um processo
ilustrativo sobre as memórias infantis e familiares que tem
subjacente uma análise psicológica das relações de "dominação" que
assumem diversas formas. São as "histórias de todos os dias", como
as identifica a artista, registadas numa série de desenhos a tinta
da China.
Acontecem numa geografia delimitada, o Estoril, que é afunilada
para o espaço de recolhimento doméstico onde têm lugar os
acontecimentos mais marcantes da vida: o nascimento, as
brincadeiras com as outras crianças, as birras, as visitas e as
relações familiares, e em que o domínio da figura paterna na
sociedade patriarcal portuguesa é, por vezes, evidenciado.
Histórias de todos os dias.
Paula Rego, anos 70
Estes instantâneos do quotidiano são, todavia, filtrados por uma
configuração onírica que é frequentemente erotizada e tem ligações
à psicanálise, aproximando-se, por vezes, de uma estética
surrealista. Também os acontecimentos políticos são alvo do olhar
crítico e por vezes caricatural de Paula Rego, cujos desenhos -
como O candidato, Simulacro e A corrida às
urnas, Outubro 1969 - revelam o ambiente vivido
durante as eleições de outubro de 1969 para a Assembleia Nacional,
as primeiras realizadas no período designado por Primavera
Marcelista (sala 1).
No rescaldo da Revolução de 25 de Abril de 1974 e do fim da
ditadura em Portugal, a família de Paula Rego enfrenta graves
problemas financeiros, resultado da falência da empresa herdada do
pai, gerida desde 1966 pelo seu marido, Victor Willing, cuja doença
avançava progressivamente. Embora o período que sucedeu a Revolução
tenha sido bastante difícil, o seu trabalho continuaria a ser
apresentado ao público, em exposições nacionais e internacionais,
como um exemplo significativo da qualidade e da originalidade da
arte contemporânea portuguesa.
Curadoria: Catarina Alfaro