MY CHOICE - Obras seleccionadas por Paula Rego na
Colecção do British Council
14 de Julho a 23 de Outubro de 2011
My Choice é uma exposição produzida em
parceria com o British Council e a Fundação EDP que se estrutura a
partir do conceito já conhecido e experimentado do
artista-curator.
Depois de se apresentar na Casa das Histórias Paula Rego, em
Cascais, entre fevereiro e
junho, a exposição é dada a ver na galeria da
nova sede da EDP do Porto, seguindo finalmente em
outubro para A Casa das Caldeiras (Universidade
de Coimbra).
São 87 obras selecionadas,
maioritariamente desenhos e gravuras, mas também fotografia e
pintura, que espelham a sua identidade criadora. O critério
desta seleção e as possibilidades de
agrupamento e relação deste universo
heterogéneo de imagens, traçam-se livremente,
não sendo motivados por um qualquer programa curatorial de
apresentação das obras de acordo com uma visão sistemática ou
metodologia de escolha das obras pré-estabelecida. Como afirma a
artista, «(…) Escolhi apenas aquilo de que gostei. Não escolhi
imagens por causa do nome do artista ou por serem consideradas
historicamente relevantes. Muitas vezes, não sabia quem as tinha
feito. Algumas delas, já as vira antes, mas outras não. Adorei essa
liberdade de gostar do que via».
My Choice desenvolve-se assim a partir desse mapeamento livre de
constelações de imagens de uma coleção
que habitualmente não é exposta na íntegra.
«A coleção do
British Council está guardada num armazém, e eu não fazia ideia de
quanto teria para ver. Desci alguns degraus, e deparei-me com
prateleiras e prateleiras cheias de imagens. … Ao fundo da sala
empilhavam-se grandes caixas de cartão negro, cheias de desenhos e
gravuras. Tive a impressão de que algumas não eram abertas há anos
e anos, de que ninguém havia sequer olhado para elas.
Descobri um mundo mágico de lugares lindamente desenhados, casas
com janelas de vários tamanhos, paisagens e vistas urbanas, muitas
vezes misteriosas. Senti o meu coração palpitar, sem saber ainda a
sucessão de surpresas que me esperava; enchi-me de
expectativa e encanto».
Neste surpreendente processo de
descoberta, descrito por Paula Rego, e a possibilidade de tornar
visível o que raramente pode ser visto, os processos criativos
próprios do fazer artístico surgem como estímulos às escolhas da
artista: «Gosto de desenhar. Gosto de olhar para desenhos, de
perceber como o desenho aconteceu, o impulso do artista.
Era empolgante olhar de perto alguns dos
desenhos, seguir as marcas de tinta feitas por Sickert, a linha com
que desenha as pernas do homem. Há uma altura em que se pode ver
que ele não sabe bem por onde ir, um borrão, como um ligeiro
percalço, mas continua em frente mesmo assim, mesmo que se esteja a
enganar. O resultado é uma imagem desajeitada, arrebatadora e
levemente ameaçadora. Há desenhos maravilhosos nesta
coleção».
A sua escolha é sempre individualizada, como se cada uma das obras
tivesse sido olhada e selecionada como
peça única, sem sentido de corpo com as restantes. O que as une é o
olhar da artista, conduzido quase sempre para obras com uma
narratividade intrínseca que muitas vezes se manifesta através de
situações extremas, de grande tensão e dramatismo, também presentes
nas obras que se desenvolvem a partir de narrativas universais,
como o nascimento, a morte, o amor e o sexo.
Naked Girl with
Egg de Lucian Freud, destaca-se naturalmente deste conjunto,
obra escolhida por Paula Rego motivada pela história real que a
pintura transporta e que a artista naturalmente conhecia. Uma
história que adivinhamos infeliz, que transparece na excessiva
exposição daquele corpo jovem mas passivo, alegoricamente
objectificado na presença simbólica do ovo cozido cortado ao meio.
Esta escolha dá-se não pela sua expressão plástica nem sequer por
se identificar com a extraordinária crueza da pintura, mas
exatamente por ela lhe provocar uma forte
emoção.
As 6 gravuras de uma série de 39, inspiradas nos Six Fairy Tales from the
Brothers Grimm/ Seis Contos de Fadas dos Irmãos Grimm (1969)
da autoria de David Hockney, detêm igualmente um forte
carácter narrativo que a pintura do mesmo autor,
apresentada no Porto pela primeira vez nesta itinerância, nega ao
introduzir a ideia e imagem de uma evidente
intemporalidade.