Paula Rego: Contos tradicionais e contos de
fadas
8 de maio a 30 de setembro 2018
Paula Rego inicia a sua pesquisa sobre o universo literário dos
contos populares portugueses em 1974, ano em que começa a produzir
uma série de ilustrações dedicadas ao tema. São histórias violentas
e cruéis e nelas a artista reencontra não só as suas memórias de
infância mas também o medo. Em 1976 candidata-se a uma bolsa da
Fundação Calouste Gulbenkian, propondo-se "ilustrar mais
prolificamente os contos tradicionais portugueses ou integrar esses
contos eternos na nossa mitologia contemporânea e experiência
pessoal através da pintura". Desde então, os contos tradicionais e
os contos de fadas têm vindo a revelar-se uma fonte fértil para o
trabalho criativo da artista.
A sua abordagem aos contos é marcadamente autoral e muitas vezes
autorreferencial e as histórias que se alinham numa estética do
fantástico e que exploram as temáticas do encantamento, do amor e
da sedução, do poder e da subjugação, do medo e do terror e,
sobretudo, da transgressão, deixam de se submeter, nas suas obras,
a essas referências exteriores numa delineada estratégia de
insubmissão. Os contos, por sua vez, ganham um novo sentido ao
articularem-se, na tela ou no papel, com elementos e histórias do
universo pessoal da artista.
Na sua livre interpretação destas histórias que integram o seu
imaginário, Paula Rego introduz a voz das mulheres, dominante desde
o início dos contos de fadas. É simultaneamente personagem e
narradora destas histórias intemporais, reinscrevendo-as no seu
próprio tempo. Nesse seu contar pela pintura assistimos sempre a um
processo de questionamento, mas também de revelação crua e, muitas
vezes, brutal da natureza humana e das relações que os humanos
estabelecem entre si, sejam elas familiares, amorosas ou políticas.
Os contos de fadas servem-lhe para revelar e, sobretudo,
desconstruir os modelos de socialização estabelecidos e, mais
especificamente, os papéis atribuídos pela sociedade do seu tempo à
mulher.
Curadoria: Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira