Coleção de Arte Britânica do CAM
7 de outubro de 2021 a 30 de janeiro de
2022
Curadoria: Catarina Alfaro e Patrícia Rosas
A Coleção de Arte Britânica do Centro de Arte Moderna (CAM) da
Fundação Calouste Gulbenkian consolida-se entre 1959 e 1965 com a
aquisição de um núcleo de obras propostas por um grupo de
consultores do British Council e possibilita uma visão
relativamente abrangente do panorama artístico britânico da
primeira metade da década de 1960. A constituição desta Coleção tem
como antecedentes duas relevantes exposições realizadas em Londres
em 1964. A primeira, The New Generation: 1964, na
Whitechapel Gallery, que decorreu de março a maio, expôs artistas e
pinturas que pertencem atualmente ao núcleo histórico da Coleção do
CAM, obras provavelmente adquiridas após a exposição pelo British
Council e pela Delegação da FCG
[M.1] no Reino Unido. A segunda, intitulada Painting
& Sculpture of a Decade, teve lugar na Tate Gallery entre
22 de abril e 28 de junho e foi financiada pela Fundação Calouste
Gulbenkian, apresentando obras deste núcleo que passou,
posteriormente, a integrar a Coleção do CAM.
Na sua tarefa de seleção de obras a adquirir para a Fundação, os
responsáveis do British Council pareciam privilegiar práticas mais
experimentais da figuração, que exploravam a invenção formal
associada à abstração e incluíam elementos autorreferenciais
ou autobiográficos.
Atualmente, e após aquisições recentes - a última incorporação
ocorreu em 2019 -, este conjunto de obras de arte britânica da
Coleção do CAM é constituído por 472 obras de 207 artistas.
A formação desta coleção é paralela a uma série de iniciativas
promovidas pela Fundação Calouste Gulbenkian, de extrema
importância para o percurso artístico de Paula Rego. Logo em 1961
ocorre a primeira apresentação pública das suas obras em Portugal,
na II Exposição de Artes Plásticas organizada pela
FCG. Segue-se, entre 1962 e 1963, a concretização de um objetivo
expresso pela artista - contactar com o meio artístico londrino e
com artistas de tendências semelhantes às suas - através do
programa de Bolsas de Estudo e de Especialização e Valorização
Profissional no Estrangeiro, promovido pelo Serviço de Belas-Artes
da mesma Fundação. Finalmente, inicia-se em 1965 a aquisição de um
núcleo relevante de obras de Paula Rego pela instituição. Esta
sincronia é não só determinante para a história da Fundação
Calouste Gulbenkian, como reveladora da importância que ambos os
núcleos (obras de artistas britânicos e obras de Paula Rego)
adquirem no acervo do CAM.
A exposição de 24 obras da Coleção do CAM - entre pintura,
desenho e gravura -, da autoria de 16 artistas britânicos na Casa
das Histórias Paula Rego surge numa altura em que a artista vê a
Tate Britain, em Londres, ser palco da sua maior exposição
retrospetiva até à data, com posterior itinerância para as cidades
europeias de Haia e Málaga.
As obras da Coleção de Arte Britânica selecionadas para esta
exposição refletem abordagens experimentais no campo da figuração
de artistas que, como Paula Rego, se encontravam entre as décadas
de 1950 e 1960 a produzir em Londres e que ficariam associados à
"Escola de Londres" - conceito promovido pelo British Council para
a divulgação internacional das exposições que incluíam alguns dos
artistas britânicos aqui apresentados, como Michael Andrews, Frank
Auerbach, Leon Kossoff e David Hockney. No entanto, a representação
de Paula Rego no discurso crítico sobre a Escola de Londres
encontra-se descontextualizada cronologicamente em relação às
práticas pictóricas e ao experimentalismo formal e narrativo que
definiram essa Escola no pós-guerra e na qual a pintura desse
período da artista portuguesa também se insere. Importa, portanto,
questionar/reposicionar as razões deste aparente afastamento que,
de algum modo, a constituição da coleção do CAM parece naturalmente
contrariar.
Para esta exposição, realizada numa parceria entre a Fundação D.
Luís I e o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian,
foram também selecionadas obras de artistas da Coleção de Arte
Britânica produzidas nos anos 1980, como Maggi Hambling, Steven
Campbell e Peter Howson, que não se enquadram, por razões
cronológicas, no contexto específico da Escola de Londres, mas que
se aproximam do universo figurativo de Paula Rego.