9 de Setembro de 2010 a 2 de Janeiro de
2011
Victor Willing nasceu em Alexandria em 1928 e morreu em Londres
em 1988.
A partir de 1957 até 1974 residiu entre a Ericeira e
Londres com a sua mulher, Paula Rego, que conheceu em 1953 na Slade
School em Londres. Em 1966 foi-lhe diagnosticada esclerose
múltipla; no mesmo ano tornou-se responsável pela empresa de
componentes de electrónica do seu sogro, em Lisboa. Regressou
permanentemente a Londres em 1974. Entre 1957 e 1974 pintou
intermitentemente. Só a partir do seu regresso a Londres em 1974
voltou a pintar em full-time, produzindo um trabalho substancial.
Uma retrospectiva das suas pinturas e desenhos teve lugar em 1986
na Whitechapel Gallery em Londres. O seu trabalho nunca foi
mostrado em Portugal.
Nas suas pinturas, Willing confere presença palpável, cor e luz
aos objectos, embebidos no espaço numa fracção de tempo, suspensos
entre o passado e o futuro. A tinta é aplicada rapidamente, de
forma a reproduzir tão fielmente quanto possível o pensamento por
detrás da imagem. A estrutura da composição pictórica contém uma
cuidadosamente ajustada medida de informalidade, lembrando desenhos
de grande escala, convidando o observador a entrar e habitar a cena
pintada. As pinturas executadas entre 1974 e 1984 estão imbuídas da
ausência e bem assim da implícita presença de um protagonista, que
poderá ser o observador ou o artista ele próprio.
A estrutura fluida, a abertura e a presença física da cor e da
luz no espaço, através dos quais o observador é atraído para o
interior das pinturas, são estratégias dos pintores barrocos do
séc. XVII, que dessa forma criaram imagens coerentes de temas
religiosos, históricos ou mitológicos. Willing adopta estratégias
semelhantes nas pinturas executadas entre 1974 e 1984, conferindo
plenitude e veracidade da forma física, pictórica, a imagens
incongruentes emergindo de fantasias e de visões enraizadas no
inconsciente. Pelo facto de as pinturas serem executadas de uma
forma imediata e directa, o observador não é distraído por
especulações sobre o significado pretendido, mas sim levado a
concentrar-se no que está lá.
«Acho que são cenários», disse Willing em 1985, «onde alguma
coisa aconteceu ou está prestes a acontecer mas que não está a
acontecer nesse momento. E assim transportam um estado de espírito
e penso que é isso que as pessoas reconhecem, porque já caíram em
semelhante estado de expectativa ou rememoração quando olham para
pinturas».